Os povos indígenas merecem voz

Por: Iasmin Soares

Hoje, dia 9 de agosto, é o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Mas, quase ninguém está falando sobre essa data tão importante. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu esse dia para celebrar os povos indígenas em 1994. A data foi pensada para conscientizar a população sobre a importância dos povos originários de todo o mundo. Porque, sim, há indígenas em todos os continentes. Além disso, o 9 de agosto também é essencial para destacar os direitos que nós, indígenas conquistamos ao longo dos anos em que estivemos lutando contra a colonização, diversas violências e abusos.

O Brasil é terra indígena! Mas te pergunto: quantas matérias, reportagens, posts e eventos sobre nós vocês viram hoje ou nos outros dias do ano? Nos esquecem sempre. Ou quando lembram é para nos colocar no lugar dos estereótipos, ou daqueles que não são protagonistas. Estamos cansades de estar nesse lugar do esquecimento.

Se afirmar enquanto indígena ainda é um desafio na sociedade em que vivemos. Todas as vezes que me imponho como uma mulher indígena em retomada surgem os questionamentos:

– Como você é “índia” se seu cabelo não é liso?
– Você é negra, com essa pele não é indígena.
– Mas você não vivem em “tribo”.
– Não tem “índio” no nordeste, só lá no norte.

São diversas as violências diariamente. A realidade não é fácil.

A sociedade ainda tem no imaginário a representação que os colonizadores criaram do indígena, aquele de cabelo liso, olhos puxados, pele “vermelha”. Essa idealização é uma imagem de controle, que reduz nós, povos indígenas, a uma só face. Somos plurais e diversos.

Imagem de controle é um termo muito utilizado pela pesquisadora Patrícia Hill Collins nos seus estudos sobre negritude nos Estados Unidos. Me aproprio do termo para fazer a análise e trazer para os indígenas. Há algumas imagens de controle que foram criadas pelos colonizadores para nos reduzir. São elas: o estereótipo do indígena animalizado, sem sentimentos e sem racionalidade. Podemos ver esse exemplo nas representações de novelas e filmes, por exemplo. Outra imagem de controle é a da Iracema, mulher indígena que espera ser salva pelo homem branco. A imagem da Iracema ainda é propagada para justificar os abusos que as mulheres indígenas sofreram e sofrem. Mais um estereótipo é o do indígena preguiçoso, que não trabalha e só vive descansando. Essas são algumas dessas imagens de controle que foram sendo construídas para aniquilar a existência da individualidade de cada parente indígena.

Quando percebo que em diversos espaços estão negando a nossa existência fico triste, mas não canso de levantar a voz para questionar e lutar por um lugar que é nosso, por direito. Queremos ser lembrados, não só em datas específicas, mas diariamente na construção da nossa sociedade. Acredito que ainda temos um longo caminho para garantia e melhorias dos nossos direitos. De 1994 para cá quase nada mudou. Ainda somos os que são expulsos dos seus territórios, os que são questionados de sua identidade, aqueles que tiveram as suas histórias negadas e que hoje ainda vivem no limbo de identidade.

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