Por: Dapheny Feitosa
No último debate, duas candidatas à presidência tomaram conta do debate na tv aberta e também nas redes sociais. Simone Tebet, candidata pelo MDB, e Soraya Thronicke do União Brasil foram firmes em suas respostas e mantiveram-se eloquentes durante todas as três horas do debate, rebatendo quando necessário a misoginia que não consegue se esconder, mesmo em ambientes extremamente monitorados.
Foi no twitter, entretanto, que a performance das candidatas foi bastante elogiada e onde foi possível perceber certa surpresa diante da postura das presidenciáveis. Sem considerarmos, em primeiro lugar, que essa “surpresa” tão destacada pelos comentaristas políticos de grandes canais da mídia diz muito sobre o quanto mulheres em situações de destaque e sabatinas que exigem firmeza e inteligência parecem provocar uma sensação de inesperado comportamento, tendo em vista que estão acostumados a nos ver de forma mais dócil, preciso destacar o deslumbramento que certos setores progressistas tiveram.
A atriz Maria Ribeiro – diretora inclusive do documentário Outubro, que relata as manifestações feministas contra a eleição de Bolsonaro em outubro de 2018, as famosas “Ele não”- chegou a twittar que Lula deveria dar um ministério para Tebet.
Minha surpresa foi estarrecedora. Simone Tebet votou pelo impeachment de Dilma, a primeira presidente do Brasil, além disso, a ex-senadora já afirmou que é contra a legalização do aborto e seu argumento é que o Brasil ainda não é “maduro” para debater esse tema. Enquanto esperamos o país amadurecer, segundo relatório da Anis – Instituto Bioética, a Pesquisa Nacional de Aborto estima que são realizados cerca de 500 mil abortos por ano e que deste número apenas cerca de mil procedimentos foram feitos de forma legal. Sabemos também que as vítimas de abortos clandetinos são em sua maioria mulheres pobres e negras.
Não é novidade que, durante o governo de Jair Bolsonaro, mesmo os procedimentos respaldados pela lei encontram grandes empecilhos para sua execução. Qualquer candidata que se coloque como aliada na luta por igualdade de gênero e que não paute os direitos reprodutivos das mulheres não atende às nossas necessidades.
Simone Tebet se colocou no debate como em defesa dos direitos da mulheres trabalhadoras, mas na realidade a reforma trabalhista que precarizou ainda mais as relações de trabalho teve apoio do MDB, partido da candidata, além disso, Tebet votou com o governo Bolsonaro a favor da reforma da previdência e em 86% das propostas bolsonaristas, portanto, sem dúvida alguma uma aliada do presidente. Assim como Soraya Thronicke, cujo slogan na última eleição era “a senadora do Bolsonaro”. Apesar do seu empenhado papel na CPI da COVID, Tebet votou a favor da PEC do teto de gastos, medida que precariza e fragiliza o SUS enquanto fortalece a iniciativa privada. Na questão indígena, Simone é uma inimiga declarada, a ex-senadora já votou pela suspensão de todas as demarcações de terras dos povos originários durante um período de quatro anos, além de defender o pagamento de indenizações a latifundiários e grileiros.
Nós, mulheres, somos tão cerceadas do direito de nos ver representadas em espaços públicos e de poder que ao que parece não é difícil ser seduzida e abduzida por falsas e rasteiras ideias feministas quando quem fala são mulheres. Entretanto, é preciso que estejamos atentas ao fato que o slogan “vote em mulher” diz realmente pouco, pois candidatas que não defendem pautas feministas e que não regulem suas propostas mirando a diminuição e, por conseguinte, o fim da desigualdade e das violências de gênero trabalham, na verdade, como aliadas do patriarcado, reforçando injustiças e abusos.
Por isso, quando este dia tão importante chegar, 2 de outubro, pense no quanto precisamos de mais mulheres na política, mas, sobretudo, reflita sobre o fato de que precisamos de candidatas que defendam os direitos das mulheres, que pautem as questões que nos matam, que nos empobrecem, que nos agridem. Precisamos, portanto, eleger candidatas feministas.