Por: Gracielle Araújo
Um dos assuntos mais comentados e repercutidos no Brasil recentemente é a relação abusiva entre Gabriel e Bruna Griphao nesta edição do BBB. O apresentador Tadeu Schmidt teve que fazer um alerta no programa – ação nobre e corretíssima – pois a situação poderia piorar. E o que acontece no BBB acaba sendo reflexo da vida real.
Publiquei algumas das minhas impressões nas redes sociais e recebi alguns comentários. Algumas mulheres criticavam a Bruna, outras falavam que a culpa foi de ambos e a maioria não entendia o motivo da Bruna ir atrás/continuar com o Gabriel.
A psicanalista, Manuela Xavier, através do seu Instagram, fez um post sobre a masculinidade e estratégia de controle do Gabriel.
Eu me vejo tanto na Bruna e me identifico com ela por diversos motivos: um deles é que eu já tive relações abusivas e não enxergava. Eu até sabia do sofrimento que me causava, mas eu sentia uma dependência emocional, um medo de perder o homem que amava, que me submetia a aguentar muita coisa tóxica.
Bruna, assim como eu e milhares de mulheres, é independente, inteligente, desconstruída, forte. Como dizem, é aquele tipo de mulher que as pessoas falam que é um “mulherão da porra”. Mas, apesar disso, ela não enxergou que estava numa relação abusiva e ainda está indecisa.
Já relatei aqui uma vez meu texto sobre um relacionamento tóxico. E, depois daquela relação, tive uma outra pior, incluindo agressões verbais, faltando muito pouco para agressão física. Foram momentos em que eu não me reconhecia. Eu pensava: o que estou fazendo da minha vida? Por que eu permaneço com ele?
Mas sabe o que acontecia depois? Ele me convencia de que tudo o que ele fazia era por amor. Ele falava que eu jamais ia encontrar alguém que me amasse tanto como ele. Eu acreditei. Perdoei diversas vezes.
Minha família, meus amigos, minha mãe…Todos me alertaram do relacionamento que eu estava vivendo. Todas as atitudes estavam ali na minha frente, mas eu fechava os olhos. Eu não conseguia sair.
Eu não tinha mais vida. Eu não saía com meus amigos. Minhas mensagens eram monitoradas. Pessoas eram excluídas diariamente das minhas redes sociais.
A nossa relação ficou nesse ciclo até que, um dia, tudo saiu do controle e eu solicitei medida protetiva. Eu até pensei que não fosse conseguir, pois a delegada disse que não tinha agressão física, e eu saí de lá tão mal. Ficava pensando: “Como assim não vão deferir a medida protetiva? Eu sofri abuso psicológico. Eu sofria agressões verbais”. Mas foi deferida. Esse foi o primeiro passo para sair da relação. Foram meses de terapia para compreender que eu não fui a culpada e que ele estava errado.
Minha terapeuta costuma falar que até o relacionamento mais “saudável” que eu tive foi abusivo. Todos os meus relacionamentos foram abusivos. Ela disse que a calmaria para mim é sinal de que as coisas estão erradas. E não é para ser assim. Hoje me compreendo mais. Vou tentando mudar algumas situações e ficar mais alerta.
Por isso, eu entendo ainda mais a Bruna e como ela se sente. Na nossa cabeça enxergamos alguém com imperfeições e que nos ama. Porém não é assim que os homens tóxicos agem. Eles conseguem nos manipular e destruir aos poucos. É muito difícil, mas a gente vai superando. Cada dia é um passo que damos em direção a nossa liberdade.
Para superar e entender tudo o que estamos passando, precisamos do apoio dos nossos amigos e familiares. Precisamos de empatia, palavras de carinho, terapia e compreensão. A mulher desconstruída e inteligente também está vulnerável ao homem manipulador. Entenda com afeto o que ela está passando. Não julgue. A vítima é a mulher. Ela precisa de acolhimento. Vivemos em uma sociedade patriarcal e, até mesmo, uma mulher questiona a dor da outra. Não sejamos assim.
Abaixo segue uma relação das frases que ele mais falava para mim, caso você esteja em um relacionamento tóxico:
– Você é a mulher da minha vida. Nunca vou deixar você. Eu fiz tudo isso porque eu te amo. Me perdoa;
– Eu te amo tanto. Você nunca vai encontrar outro como eu te amo. Eu faço tudo por você;
– Você é louca. Ninguém vai acreditar. Quem vai acreditar numa mulher transtornada como você?
– Eu preciso saber com quem você conversa. Não quero mulher minha conversando com homens no Instagram.
Por fim, na Paraíba, foi aprovado o Projeto de Lei (PL) Mariana Thomaz, que obriga as instituições estaduais de assistência e acompanhamento às mulheres a divulgar sites de consulta sobre os antecedentes criminais de homens, que possuem registros de agressão contra mulheres. Um avanço para nós, que somos mulheres, mesmo que tenha sido aprovado após a morte trágica de Mariana.